A microrregião do Vale do Açu é reconhecida no contexto
potiguar e nordestino por suas riquezas naturais abundantes. Os municípios que
compõem sua base geográfica – Alto do Rodrigues, Assú, Carnaubais, Ipanguaçu,
Itajá, Jucurutu, Pendências, Porto do Mangue e São Rafael – reúnem importantes
vantagens comparativas. Isso porque eles detêm as maiores reservas de água doce
do Rio Grande do Norte (RN), solos férteis de ótima qualidade, além de um
estoque de minerais diversificado ainda pouco explorado. As pesquisas
acadêmicas disponíveis indicam que, a partir dos anos 1980, os nove municípios
referenciados vivenciaram uma grande transformação produtiva provocada, entre
outros fatores, pela construção da gigantesca Barragem Armando Ribeiro
Gonçalves, pela instalação da PETROBRAS e da fruticultura irrigada, bem como
pelo avanço da indústria ceramista e da urbanização das cidades locais. Essa
transformação, apesar de seus resultados econômicos positivos, causou graves
externalidades negativas que se perpetuam através do tempo. Atualmente, o
território açuense enfrenta uma crise ambiental de largas proporções. As faces
mais visíveis dessa crise, geralmente ignorada pelas autoridades competentes,
estão expostas na paisagem regional na forma de extensas áreas desmatadas e em
risco de desertificação, lixões e esgotos a céu aberto, assoreamento e poluição
dos corpos d’água e do rio Piranhas-Açu etc. É possível afirmar, assim, que a
população que habita o Vale do Açu no presente está usufruindo do patrimônio
natural da região e deixando como herança para as futuras gerações um passivo
ambiental indesejado. Essa situação ganha contornos mais graves quando se
constata que, ao longo dos anos, os governos municipais não têm conseguido
implementar iniciativas abrangentes no sentido de evitar e superar os problemas
ambientais verificados na área. Nos municípios açuenses, as estruturas
administrativas criadas para tratar dos assuntos ligados ao meio ambiente ainda
são pouco operantes. De maneira geral, as equipes designadas para fiscalizar e
coibir os crimes ambientais são reduzidas e apresentam pouca ou nenhuma
autonomia para trabalhar. Ademais, há uma inquietante carência de projetos e
ações de longo prazo com o objetivo de proteger a biodiversidade e recuperar o
meio natural dos estragos causados pela ação humana. O cenário de
insustentabilidade mencionado exige, portanto, uma mudança urgente de rumo. A
crise ambiental que atinge o Vale do Açu, e a precariedade das estruturas de
gestão existentes, são temas que não podem ficar de fora do debate político que
se inicia mirando as eleições de outubro. Por sua vez, parece claro que um dos
principais desafios dos novos prefeitos eleitos que irão assumir seus cargos em
2017 será enfrentar de maneira estratégica a questão enfatizada. Tal postura
não implica abrir mão da exploração e do uso racional das riquezas regionais. O
que está em jogo é a necessidade inadiável de construção no solo açuense de um
modelo de desenvolvimento sustentável que procure conciliar crescimento econômico
e preservação da natureza.
Joacir Rufino de Aquino - Economista, professor e pesquisador da UERN/ O Mossoroense.
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