A falta de chuva nos últimos anos fez a Barragem Armando
Ribeiro Gonçalves, que abastece 34 cidades do Rio Grande do Norte, ficar com
apenas 15% de sua capacidade. Se não chover logo, ela pode entrar no volume
morto em 6 meses, e comprometer ainda mais a distribuição de água. O nível
atual é o mais baixo desde que a barragem foi inaugurada, em 1983, segundo o
Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs). A última vez que a
barragem sangrou – ou seja, teve mais água que sua capacidade máxima e houve
escoamento – foi em 2011. A barragem tem capacidade para 2,4 bilhões de metros
cúbicos de água, e abastece atualmente municípios das regiões Oeste, Central e
Seridó do estado.
Cinco entraram em colapso recentemente e três permanecem
– ou seja, a empresa responsável interrompeu o fornecimento e suspendeu a
cobrança da conta. Isso ainda acontece em Tenente Laurentino Cruz, Bodó e Lagoa
Nova. Outras 28 cidades estão no regime de rodízio de água. Dos 167 municípios do estado, 153 estão em
situação de emergência, e 20 estão com o abastecimento cortado. Em outras 73,
foi preciso adotar sistemas de rodízio para que a oferta não fosse totalmente
cancelada. Os cinco anos de chuvas abaixo da média desestruturaram as cadeias
produtivas, afetando inclusive as exportações e a arrecadação de impostos. O G1
visitou sete cidades onde ou os canos já estão vazios ou há rodízio. Nestes
locais, conseguir água está cada vez mais caro. “É uma situação preocupante,
com certeza. Os anos de 2012 e 2015 foram muito ruins para a Armando Ribeiro.
Praticamente não choveu nada. Este ano ainda caiu uma água. Agora estamos
torcendo para que as previsões de boas chuvas se confirmem para o ano que vem.
Caso contrário, em junho de 2017 a barragem chegará a menos de 10% de sua
capacidade e fatalmente entrará no volume morto”, afirma José Eduardo Alves
Wanderley, coordenador do Dnocs no RN.
O chamado volume morto é o resto. No caso da Armando
Ribeiro, quando a barragem atinge menos de 10% de sua capacidade de
armazenamento. “Nesta condição, a água se
torna imprópria para o consumo humano em razão da mistura com a lama e demais
dejetos que estão no fundo do leito”, explica José Eduardo. Tratar a água
que sobra no fundo dos reservatórios exige grandes quantidades de produtos
químicos, pois é no fundo do leito onde se encontram grandes quantidades de metais
pesados e outros poluentes.
“Além do mais, essa
reserva técnica precisa ser preservada por uma questão ambiental. Existe todo
um ecossistema que vive no entorno dos reservatórios. Retirar essa água
significa sacrificar esse ecossistema”, ressaltou Josildo Lourenço, gerente
de Inovação Tecnológica e Controle de Perdas da Companhia de Águas e Esgotos do
RN (Caern). O volume morto da Armando Ribeiro ainda é menor, em termos de
volume, que o de outras represas, como as do Sistema Cantareira, em São Paulo.
O volume mais extenso torna a reserva técnica menos poluída, e o tratamento
mais fácil. O nível da água está tão baixo que praticamente toda a antiga
cidade de São Rafael ressurgiu. O município foi inundado há 33 anos, logo após
a construção do reservatório. Na época, 730 famílias foram removidas para um
ponto mais alto da região. Agora, as ruínas antes submersas estão acessíveis e
viraram atrações turísticas. É a “Atlântida do Sertão”, como foi apelidada a
velha cidade. Atualmente, apenas 13 cidades afetadas pela falta total ou
parcial de água são atendidas pela Operação Vertente, que leva carros-pipa com
água potável para zonas urbanas de cidades sem distribuição. A partir de
janeiro, a Controle de Perdas da Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern) vai
ampliar este número para 22, atendendo cerca de 180 mil pessoas. A água dos
caminhões-pipa sai de poços que ficam nos municípios de Apodi e Vera Cruz. Hoje
52 caminhões fazem o trabalho. Esse número passa a 98 em janeiro.
Créditos
Reportagem: Anderson Barbosa, Fred Carvalho e Beatriz
Vital
Edição: Juliana Cardilli
Conteúdo: G1/RN.
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