No ano de 2006, teve início a primeira fase do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, implementado pelo Governo Federal. Como fruto dessa expansão, há 15 anos, foram criados os campi Currais Novos, Ipanguaçu e Natal-Zona Norte do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN).
Desde os povos pré-colombianos, a idade de 15 anos é acompanhada de festas. Com o IFRN não seria diferente. Dessa forma, em comemoração aos 15 anos da primeira fase da sua expansão, no mesmo mês em que o Instituto Federal do Rio Grande do Norte comemora 112 anos, o Núcleo de Jornalismo (Nujor/IFRN) produziu uma série de reportagens sobre os três campi. Após a primeira delas, referente ao Campus Currais Novos, mergulhamos no Campus Ipanguaçu. Ainda em alusão à data, será realizada na quarta-feira, 22 de setembro, uma live, transmitida no canal do YouTube do IFRN, a partir das 18h30.
Campus Ipanguaçu
No lugar onde era a antiga Fazenda-Escola Cenecista Professor Arnaldo Arsênio de Azevedo, criada em 1988, pela Campanha Nacional das Escolas da Comunidade em parceria com o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, surgiria 18 anos depois o Campus Ipanguaçu do IFRN. Mantendo o perfil agrícola, o Campus está situado na microrregião do Vale do Açu e atende a 21 municípios diferentes, alcançando uma população de cerca de 120 mil habitantes, dos quais três em cada cinco se concentram nas zonas urbanas.
Os cursos ofertados para as quase 1.700 matrículas ativas vão desde Formações Iniciais e Continuadas (FICs), passando por Técnicos (Integrados, na modalidade regular e Educação de Jovens e Adultos, além de Subsequentes) e indo até a graduação. Os eixos temáticos se concentram em Agroecologia, Informática e Meio Ambiente, também contando com a Licenciatura em Química.
Na Direção-Geral do Campus Ipanguaçu hoje está o professor Geraldo Júnior, servidor do IFRN desde 2007, quando começou como Técnico de Laboratório Agrícola. Teve uma passagem pelo Campus Currais Novos entre 2010 e 2012, quando retornou a Ipanguaçu como docente e assim permanece até hoje.
Dentre as principais dificuldades enfrentadas pelo diretor-geral desde abril de 2020, o professor Geraldo comenta que está o trabalho remoto, provocado pela pandemia da Covid-19: “somos um Campus agrícola, que detém a maior área territorial no Instituto e que demanda muita dedicação na sua manutenção”. São 1,333 milhão de metros quadrados ocupados pelo Campus Ipanguaçu, o equivalente a 133 hectares, cuja área construída ocupa apenas 1,6% do total.
Outra dificuldade enfrentada decorrente da pandemia está relacionada ao ensino remoto emergencial, que “também tem influenciado muito o desempenho acadêmico de nossos alunos, além de breve acréscimo na evasão por diversos fatores”, segundo o diretor-geral. Foram e ainda estão sendo investidos montantes em auxílios para compra de equipamentos e assinatura de internet aos estudantes do Campus Ipanguaçu, que somam ao todo R$ 645.180,00 para 559 alunos, contando com dados de 2020 e 2021 até agora e a previsão até o final do ano. Dessa forma, quase um terço do corpo discente do Campus tem recebido auxílios emergenciais.
Histórias entrelaçadas
Quem percebe com clareza as dificuldades do ensino remoto é o coordenador do Curso Técnico Integrado de Agroecologia, modalidades regular e EJA, professor Júlio Prestes: “o nível de aprendizado fica muito prejudicado, principalmente nas disciplinas técnicas, por não poder ministrar aulas práticas de campo; na disciplina de Máquinas Agrícolas, os alunos aprendem dirigir trator, conhecem as principais práticas de manutenção, troca de óleo, abastecer água do radiador, calibragem dos pneus, acoplamento do trator aos implementos, etc”.
Natural do município de Jucurutu, distante 88 km de Ipanguaçu, Júlio compôs a primeira turma dos técnicos-administrativos do Campus, em 2006, contratado como engenheiro. Pousou com muitas perspectivas e objetivos à sua frente, como comenta: “Ao chegar, tive a impressão de que poderia desenvolver muitos projetos, dada a experiência acumulada de 20 anos de trabalho no Vale do Açu, na profissão de engenheiro agrônomo; e por conhecer a região, sabendo da disponibilidade de recursos durante a fase de implantação do Campus, isso potencializou o desenvolvimento de vários projetos”. Atuou como técnico-administrativo por dois anos, quando passou no concurso para ser professor, posto do qual não ousa renunciar.
Júlio relata que a chegada do Instituto Federal em Ipanguaçu mudou para sempre a sua trajetória: “antes eu trabalhava na função de engenheiro agrônomo em uma Prefeitura da região, que, além do salário muito baixo, não dava oportunidades de ascender profissionalmente, nem qualificação; após chegar no IFRN, inicialmente na função de técnico-administrativo, participei de vários congressos; após assumir o cargo de professor, tive a oportunidade de fazer mestrado e doutorado, e apesar de não ter me afastado [das atividades do Campus], consegui concluí-los com êxito”.
A participação em congressos, simpósios e eventos faz parte da experiência que é o IFRN. Quem o confirma é Maria Luiza Guimarães, técnica formada em Meio Ambiente no Campus Ipanguaçu no ano de 2017 e que recentemente teve a sua pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) publicada em revista: “nos meus 4 anos de curso eu me envolvi muito com todas as pessoas e com tudo o que eu aprendi em sala de aula, com o que aprendi nos corredores, com os eventos que tinha… Eu sempre participava dos eventos internos da escola e sempre tentava me envolver”.
Natural da cidade de Carnaubais, a 26 km de distância de Ipanguaçu, a jovem que hoje cursa Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte visualizava a entrada no Instituto Federal como sua grande chance de ter uma educação de qualidade: “Eu sempre tive o sonho de entrar no IFRN, porque é uma escola de referência, e lá eu teria a oportunidade que eu não teria em escola pública na minha cidade, onde eu não iria desenvolver as aptidões que eu iria desenvolver no IF” .
“Experiência foi além de acadêmica”
Malu comenta que aproveitou muito bem cada minuto que teve no Instituto Federal: “acho que vivi muito meu tempo no IF, vivi bastante, aproveitei ao máximo cada corredor, cada pilar. Porque a gente costumava dizer que os alunos do IF eram muito apegados aos pilares da escola, e eu era muito apegada aos meus amigos, professores, chefes da bolsa de apoio técnico…”
Como uma pessoa que se define como nostálgica, emocionada e ligada às questões subjetivas, a jovem potiguar conta que tem fresca na cabeça a lembrança do primeiro dia de aula, quando entrou com o pé direito e com a mão dada a uma amiga. Os momentos, além de todos os ensinamentos dados pelos professores, valem mais que qualquer coisa, de acordo com ela: “É por isso que hoje, quando você fala em IF, a primeira coisa que eu penso é saudade. Eu estou o tempo todo lembrando de alguns momentos, porque lá não era só uma escola que a gente apenas ia, estudava e ia embora para casa, não; era a escola que a gente morava. A gente costumava dizer que a gente morava no IF e só passava em casa para dar um oi para a família”.
Malu dá todo o crédito do amadurecimento e da preparação para entrar na UFRN, sair do interior e morar na capital para a sua experiência no Instituto Federal: “O IF me ajudou muito, ele amadureceu o meu comportamento, o meu pensamento, inclusive o meu jeito acadêmico. Um aluno do IF quando chega na faculdade… Jamais desmerecendo os outros alunos, mas, realmente, o IF dá uma carga e te passa uma experiência que você já chega um pouquinho mais preparado para a faculdade, principalmente para a correria, porque o IF é correria, não é moleza não, então para essa correria a gente já chega adaptado” .
Onde estaremos em 5 anos
O Campus Ipanguaçu do IFRN tem um futuro brilhante, segundo seu diretor-geral, professor Geraldo Júnior. Ele comenta que “todos os servidores e alunos que passaram ou permanecem no Campus desenvolvem um sentimento muito especial por esta casa de educação”, como a gente pôde perceber com Malu. Geraldo faz uma previsão para o aniversário de 20 anos do Campus:
“Nos próximos 5 anos, deveremos consolidar as nossas linhas de ensino, aprimorar os nossos cursos e expandir a nossa capilaridade institucional. O fortalecimento da Rede de Ensino Profissionalizante também será um balizador para alcance das nossas metas institucionais, previstas no Plano de Desenvolvimento Institucional (2019 a 2026)”
.São grandes metas para o Instituto.
Saímos do macro e pousamos nas previsões do professor Júlio Prestes para o futuro do seu eixo temático. O natural de Jucurutu espera que o curso de Agroecologia verticalize para a Especialização ou o Mestrado e que evolua na prática da Fazenda Escola, de forma que toda produção seja de base ecológica, principalmente a produção animal, e que o Campus Ipanguaçu seja referência em Agroecologia no Nordeste. Ele complementa:
“Que os nossos técnicos e tecnólogos de Agroecologia sejam os protagonistas nesse processo de mudança da produção convencional, para a produção de base ecológica, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da agricultura de forma economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta”.
Além disso, em 5 anos Júlio espera se aposentar, mas não pretende se desvincular do Ensino tão fácil assim: “Quando eu estiver aposentado, vou montar um sítio com várias experiências agroecológicas para receber visitação de alunos e professores, para aulas práticas de campo”.
A expansão
O reitor do Instituto, professor José Arnóbio de Araújo Filho, declara que a primeira fase de expansão do IFRN representa a possibilidade de ampliação da interiorização do Rio Grande do Norte, pois, antes da criação dos novos campi, a interiorização ocorria apenas na cidade de Mossoró. Arnóbio comemora o alcance do Campus Ipanguaçu, que surgiu para atender “aquela população do baixo Açu, da região do Açu e por que não dizer da população também de Mossoró, visto que este Campus tem outras possibilidades de oferecimento de cursos”, comenta.
Fonte: IFRN
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