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A entrevista concedida pelo presidente do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Norte (TJRN), desembargador Cláudio Santos, sugerindo a
privatização da UERN não agradou aos estudantes nem aos dirigentes e
professores da instituição de ensino superior. Em nota oficial assinada pelo
reitor Pedro Fernandes Ribeiro Neto, publicada na sua página oficial, a
Universidade declarou que a “proposta,
num improviso gerencial, não tem lastro jurídico, social nem econômico”.
Na página da ADUERN/Assú no Facebook, a professora do Departamento
de História do Campus local Andreza de Oliveira Andrade publicou uma Carta
Aberta ao presidente do Tribunal de Justiça do RN. O texto é publicado também aqui
neste espaço virtual de notícias.
“Carta Aberta ao
presidente do Tribunal de Justiça do RN, Cláudio Santos
Caro
senhor Cláudio Santos,
Sua
fala em defesa da privatização de uma universidade pública que presta
relevantes serviços ao desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Norte como a UERN
só me pode fazer crer que se trata, primeiramente de um preconceito de classe,
pois a UERN forma filhos e filhas da classe trabalhadora do RN. Mas não é
qualquer classe trabalhadora, é notadamente, àquela que vive no interior do
Estado, no seu sertão, no semiárido do alto Oeste, do Seridó, do vale do Açu,
que não mora em Natal nem desfruta das benesses do capital na via costeira ou
na zona sul de Natal. E é aí que se inscreve a segunda dimensão do preconceito:
o geográfico. Muitos de nós professores/as e alunos/as da UERN somos filhos e
filhas de operários/as e trabalhadores/as do campo, uma parcela da população em
função da qual a grande mídia desse país e deste estado não sai em defesa. E
quando o senhor, na condição de presidente do Tribunal de Justiça do RN, em
entrevista, aponta a privatização da UERN como uma forma de reestruturar as
finanças do Estado, fica claro que fala a partir do seu lugar social,
colocando-se como representante de uma visão elitista da educação, a partir da
qual estuda quem pode pagar e o custo de um curso de graduação não se resume ao
valor de uma mensalidade. Certamente que o senhor pode pagar esse custo para
seus filhos ou filhas, mas infelizmente meus alunos e alunas não tiveram a
sorte de nascerem filhos/as de juízes desembargadores. E diferentemente do
senhor que tem salário bruto acima de 40 mil reais por mês, a imensa maioria da
população de nosso Estado é pobre, e negar-lhe a UERN é reforçar o abismo da
desigualdade social no RN. Como professora, o convido a conhecer nossos/as
alunos/as e suas histórias de vida. Venha a Assú, onde sou professora, vamos
conversar com as pessoas, vá a Patu, Pau dos Ferros, Caicó, converse com a
população da Zona Norte de Natal, pois é, a zona norte também faz parte da
cidade e do Estado.
O
Brasil e o Rio Grande do Norte precisam avançar na defesa e promoção da
educação pública, gratuita e de qualidade, e nenhum cidadão ou cidadã bem
intencionado pode defender o fechamento de instituições de ensino. Precisamos
defender, trabalhar e lutar pela ampliação da quantidade e da qualidade destas
instituições.
Por
último, gostaria de lembrar-lhe, caro desembargador, existe um mundo e um Rio
Grande do Norte para além das paredes luxuosas e cheias de obra de arte dos
tribunais, existe um RN que viaja de pau de arara, pega carona, come poeira,
mas não deixa de ir para aula na UERN, é por esta parcela grandessíssima da
população do Estado que sugiro que o senhor possa reavaliar seu ponto de vista
e retratar-se com a população do Rio Grande do Norte. É por ela também que sigo
minha luta cotidiana pela UERN e pelo direito de meus alunos e alunas terem uma
formação de qualidade com desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão,
mesmo sem tantos auxílios no meu salário entrego minha vida à minha profissão,
pois julgo que através dela estarei semeando um mundo novo.
Paz
e bem.
Andreza
de Oliveira Andrade - Professora do Departamento de História do Campus Avançado
Prefeito Walter de Sá Leitão - Assú”.
Foto com os créditos de João Gilberto
Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, o
deputado estadual George Soares (PR), levantou a voz em defesa da Universidade
nesta terça-feira, dia 1º de novembro. Segundo publicação contida no site da
Casa, ele pediu mais respeito para a instituição e defendeu que os rumos da
universidade sejam discutidos internamente.
“A UERN dá a
oportunidade, através da educação, de um homem do campo se tornar um médico,
são poucas as universidades que dão essa oportunidade. E não falo aqui apenas
do Campus de Assú, da minha região, mas de todos os campis no Estado. A UERN
merece ser respeitada. Qualquer discussão externa não renderá bons frutos. Essa
discussão sobre federalização da instituição precisa ser interna, com seus
docentes, funcionários e alunos”, disse o parlamentar.
George Soares citou a luta de seu mandato em reforçar as ações
da UERN. Através de emendas individuais o campus de Assú foi climatizado e
beneficiado com um ônibus.
“Também indicamos
recursos para a reforma do campus através do projeto de empréstimo do Banco do
Brasil”, concluiu.
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