Nestes tempos de absurdos que vivemos na terra brasilis
com usurpação do poder central, com condenações massivas e midiáticas sem
qualquer tipo de fundamentação jurídica, de achaques à educação pública entre
tantos outros escabrosos fatos, a população estudantil é assaltada com a
proposta, no mínimo nauseabunda, de um magistrado de instância estadual que
aventa a hipótese de privatização do maior bem educacional do estado do Rio
Grande do Norte.
A simples
menção ao processo de privatização da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte já seria um acinte à educação potiguar, mas eis que um desembargador, da
mais alta câmara judicial deste estado, que jamais necessitou passar pelas
cadeiras e corredores uernianos ou de qualquer outra universidade pública, em virtude
de seu berço dourado e de suas largas posses monetárias, aventa a possibilidade
de vender um patrimônio do povo potiguar que ao longo de mais de quarenta anos
presta, não apenas ensino de qualidade mas, acima de tudo, oferece às classes
menos favorecidas uma formação cidadã para a vida através do tripé Ensino –
Pesquisa e Extensão.
Este
magistrado, certamente, jamais soube o que é NÃO ter oportunidades para galgar
um lugar ao sol, de ser obrigado a “matar um leão por dia” para ter
possibilidade de buscar a cidadania plena e em igualdade de condições. Em suma,
este douto senhor - e aqui não nos referimos obviamente ao contexto semântico
socialmente pactuado pela comunidade falante e letrada para o verbete douto,
mas sim, a toda a pejoratividade possível que a ele se aplica - jamais conheceu
a realidade de sua empregada doméstica que, sob humilhações de toda sorte,
alcançou o indescritível prazer de ver sua prole adentrar no ensino superior.
Não conheceu ele o sorriso franco e feliz de milhares de
mães, avós, pais e demais familiares daqueles que hoje apresentam ao mundo a
condição de pobres, financeiramente falando, mas graduados e pós graduados nas
mais diversas áreas do conhecimento.
É certo que
pessoas como ele invisibilizam a sociedade que o mantém no status de
desembargador. Pessoas como ele se
encastelam nos burgos da luxúria financeira em detrimento daqueles que pagam,
literalmente, a conta de sua posição social.
Defender a
privatização da UERN é, antes de tudo, defender uma postura ideológica que, a
todo custo, busca manter o povo potiguar sob o relho de senzala da qual este
mesmo povo já se libertou com sangue, suor e muitas, muitas lágrimas.
Sou eu
exemplo vivo desta realidade. Oriundo de família muito pobre obtive por meus
esforços, e não por cifrões herdados de parentes como o DOTÔ desembargador, a
grata felicidade de ser estudante uerniano. Nesta Universidade, que hoje o
desembargador quer tratar como banana no meio da feira, alcancei a formação
necessária para estar ombro a ombro com os filhos dele, se é que os tem.
Certamente, esse é o maior incômodo do desembargados
Cláudio Santos. Causa-lhe urticária, melhor dizendo: coceira braba, o fato de
pessoas comuns, pobres, negros, LGBTs e excluídos de toda sorte estar ocupando
os espaços antes experenciados apenas pelos filhos dos ricos, brancos e das
castas políticas deste estado.
Como eu, milhares de outras pessoas igualmente alcançaram
a condição de profissionais, nas mais diversas áreas, graças ao trabalho que a
UERN vem desenvolvendo no estado do Rio Grande do Norte.
Se hoje desfraldo a bandeira da dignidade social ao poder
dizer que tenho seis livros publicados, que integro os quadros da Academia
Assuense de Letras, que constitui uma família com dignidade, entre diversos
outros degraus conquistados, em muito se deve a UERN. A mesma instituição que
setores retrógrados, arcaicos e de filosofia neo-liberal insistem em entregar à
iniciativa privada cerrando as portas do maior bem que uma sociedade pode ter
que é a Educação.
Não a privatização! Não ao entreguismo da UERN aos
tubarões do ensino pago! Não as posturas neoliberais que entregam à
privatização aquilo que por direito pertence ao povo do Rio Grande do Norte.
NÃO A PRIVATIZAÇÃO DA UERN.
Resistir sempre.
Francisco José Costa dos Santos.
Professor Mestre e ex-aluno da Universidade do estado do
Rio Grande do Norte
Francisco José Costa dos Santos é professor, graduado em
Letras com habilitação em língua Inglesa pela Universidade do estado do Rio
Grande do Norte, Especialista em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade do
estado do Rio Grade do Norte e Mestre em Linguística pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte. Publicou seis livros, sendo cinco na área de
linguística e um de poemas. É sócio fundador da Academia Assuense de Letras,
entre outras titulações. E, em todas elas, a UERN está presente.
(Conteúdo publicado com permissão do seu autor)
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