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Pesquisadores brasileiros de diferentes instituições
estão empenhados em produzir uma vacina nacional contra o novo Coronavírus, o
que garantiria agilidade no combate à pandemia e independência de outros
países. Para isso, são testados desde o vírus causador da gripe até o mecanismo
usado por bactérias para enganar o sistema imune. Essa, inclusive, é a
estratégia em que o Instituto Butantan concentra seus esforços. Quando estão em
ação no organismo, as bactérias liberam vesículas feitas de suas membranas externas.
Essa ação confunde o sistema imunológico do corpo humano.
“A gente quer
acoplar a proteína do Coronavírus na superfície dessas vesículas, assim,
estamos fingindo ser o vírus”, esclarece Luciana Cerqueira Leite,
pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto
Butantan.
De acordo com Luciana, essa pequena partícula, produzida
em laboratório a partir da cultura de dois tipos de bactéria - uma para
fabricar a vesícula e outra a proteína igual ao do Coronavírus -, possibilita aumentar
100 vezes a produção de anticorpos e também é capaz de estimular a ação de
células de defesa.
“Nós já fizemos
todo esse processo para a produção da vacina contra a esquistossomose [que
já está em testes clínicos], então metade
[da produção] já está concluída”,
afirma.
Após a fabricação, a vacina será testada em camundongos,
a fim de verificar sua segurança e eficácia. A expectativa é que essa fase
tenha início em um intervalo de seis meses a um ano. Essa etapa já foi
alcançada pela equipe coordenada pelo professor Jorge Kalil, do InCor
(Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
USP). Eles também apostam em uma imitação do novo Coronavírus.
Mas, nesse caso, a simulação é feita com o uso de VLPs
(virus-like particles, em inglês), moléculas que se assemelham ao vírus, mas
não possuem material genético para a replicação viral. A vacina ainda será
aplicada em camundongos transgênicos. Eles serão modificados com o receptor
ACE-2, a enzima que o Coronavírus usa para entrar na célula. Kalil deu mais
detalhes sobre cada etapa em entrevista ao R7. Em conversa com a Rádio USP, o
professor destacou que existe um caminho “razoável”
a ser percorrido para ir dos testes em camundongos aos testes em humanos.
“Tem vários testes
em animais que serão feitos, para provar que a ideia funciona, ou seja, que os
animais desenvolvem anticorpos neutralizantes. Para depois, ver a toxicidade e
segurança”, descreve.
Após verificar esses aspectos em animais, é preciso fazer
o escalonamento, que significa produzir grande quantidade da vacina em boas
práticas de laboratório para que ela seja testada nas pessoas. De acordo com
Kalil, esse processo pode durar, no mínimo, um ano e meio. O plano é realizar
duas fases de testes em humanos: uma para verificar se a vacina é tóxica e
outra para saber qual o regime de vacinação mais apropriado para desencadear
respostas do sistema imunológico, ou seja, para o corpo começar a combater
sozinho o novo Coronavírus.
Caso essa etapa seja bem-sucedida, a vacina começará a
ser produzida em larga escala e distribuída para o mercado.
“Talvez leve dois
anos, dois anos e meio”, estima Kalil.
A equipe coordenada por Kalil troca informações com a da
Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Minas Gerais, que trabalha na produção de
uma vacina bivalente: capaz de combater o novo Coronavírus e o influenza, que
causa a gripe.
“Nós modificamos
geneticamente o vírus da gripe, que é o vírus influenza, para que ele produza
tanto as proteínas do vírus da gripe quanto uma proteína que nós chamamos de
imunogênica, uma proteína que induz resposta imune, no caso ao Sars-CoV-2.
Esperamos que uma pessoa vacinada com esse vírus tenha uma proteção contra a Covid-19
e também à influenza”, explica o pesquisador Alexandre Vieira Machado.
Os testes em camundongos devem ser finalizados só no meio
do ano que vem. Os próximos passos percorrem as mesmas etapas já descritas por
Kalil, mas devem ter como cobaia os hamsters. A pesquisadora Luciana ressalta
que os países que estão mais avançados na busca por uma vacina já tinham uma
experiência prévia adquirida em razão de outras epidemias, como a Sars
(Síndrome Respiratória Aguda Severa) e a Mers (Síndrome Respiratória do Oriente
Médio), também causadas por outros Coronavírus.
“Seria interessante
que assim que uma vacina for aprovada, essa tecnologia fosse distribuída [a
outros países] para ampliar a capacidade
de produção”, afirma a pesquisadora.
“Aqui temos
capacidade de produção, mas isso envolve muitas negociações internacionais, o
que dificulta o processo”, pondera.
Kalil, por sua vez, defende que a melhor saída é produzir
uma vacina brasileira.
“Essa vacina, se
nós não tivermos a nossa, se for feita na Inglaterra, primeiro eles vão vacinar
os ingleses, depois americanos, depois europeus, depois chineses... Para nós
termos acesso a essa vacina, vai demorar”, analisa.
A notícia é do portal R7.
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