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É e continuará sendo por meio da pesquisa e da ciência que a história será contada e comprovada ao longo dos tempos. Foi assim que pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e de outras universidades divulgaram na semana passa a comprovação da existência das primeiras pegadas de dinossauros registradas no solo potiguar, que teriam cerca de 120 milhões de anos.
Após a divulgação da descoberta das primeiras pegadas de dinossauro registradas no Rio Grande do Norte, os pesquisadores responsáveis pelo estudo continuam investigações na área para buscar novas marcas do tipo que possam reafirmar a presença de outras espécies.
A primeira visita ao local onde os primeiros registros foi realizados foi realizada em setembro e outra está programada para dezembro. Alguns vestígios já foram encontrados, mas os cientistas consideram que é cedo para confirmar se são novas pegadas.
A professora Maria de Fátima C. F. dos Santos, que atuou como diretora do Museu Câmara Cascudo da UFRN, foi a responsável pela descoberta.
Fátima, que já está aposentada disse que a descoberta foi registrada de forma inusitada.
Maria de Fátima disse que acompanhava um geólogo que coletava dados na Fazenda dos Pingos, localizada na cidade de Assú, na região Oeste Potiguar, quando se deparou com as pegadas. O que segundo ela, para outras pessoas pareceria um buraco formado pelo acaso em uma pedra, despertou a atenção dos cientistas.
“Logo no primeiro momento que eu vi essas marcas, eu estava passando pelo local. Estava em companhia de um geólogo que desenvolvia uma dissertação de mestrado naquela localidade e enquanto ele coletava os dados dele eu disse que daria uma caminhada. Nessa caminhada, eu encontrei umas marcas que chamaram muita atenção”, lembra.
O local fica na Formação Açu da Bacia Potiguar, próximo à cidade de Assú, cerca de 200 quilômetros distante da capital Natal.
A professora relata que ao perceber as formações tratou imediatamente da fazer o registro fotográfico, mesmo não sendo o horário, tendo em vista que era por volta do meio-dia. Ela explica que a luz solar intensa atrapalhou o registro de alguns detalhes.
“Eu continuei impressionada com aquilo. Então mandei aquelas fotos para o dr. Giuseppe Leonardi, especialista nesse assunto”, lembra.
O professor Giuseppe Leonardi é o autor principal do artigo que divulgou a descoberta. Italiano naturalizado brasileiro, ele morou muitos anos no país e foi um dos cientistas que estudou o Vale dos Dinossauros, em Sousa, na Paraíba, o que acabou o tornando uma referência mundial no assunto.
A professora da UFRN conseguiu trazer o pesquisador de Veneza ao Brasil para ver as marcas de perto e analisar as pegadas in loco.
“Ele ficou impressionado, encantado, feliz com o que tínhamos encontrado”, conta. Novas fotos foram registradas e o artigo foi publicado em setembro, com a descrição do material informado. Esse processo demorou vários anos.
Fátima explica que as marcas de pegadas possuem características singulares, como a formação de uma borda, que os cientistas chamam de “borda de expulsão”.
“Isso é muito peculiar das pegadas, que a gente observa até mesmo no nosso dia-a-dia. Quando a gente pisa numa sedimento, numa superfície que não está consolidada, é natural que se forme essa borda de expulsão. Porque se o pé afunda, ele vai expulsar alguma coisa que está ali embaixo. No nosso achado, estão as bordas de expulsão muito nítidas, muito características”, aponta.
A professora relata ainda que as marcas foram deixadas no local e que há possibilidade de serem feitas réplicas de gesso. A retirada das formações para um museu demandaria autorizações e vários equipamentos, segundo explicou.
De acordo com os pesquisadores, os vestígios encontrados no RN, são de duas espécies diferentes: um saurópode, com cerca de 9 a 12 metros de altura, e um ornitópode, com cerca de 8 metros de comprimento.
As duas espécies identificadas eram herbívoras, ou seja, se alimentavam apenas de folhas. Os saurópodes são os famosos dinossauros pescoçudos, segundo os pesquisadores. Já os ornitópodes tinham como características as patas que lembram as de aves.
Fósseis de dinossauros já chegaram a ser identificados na Bacia Potiguar, mas essa formação geológica abrange também uma parte do Ceará e as descobertas ocorreram no lado cearense da bacia.
O processo de descoberta e identificação foi publicado no último dia 27 de setembro em artigo na edição especial em homenagem a Diógenes de Almeida Campos do periódico “Anais da Academia Brasileira de Ciências”.
O trabalho é assinado pela professora Maria de Fátima C. F. dos Santos (UFRN), que já está aposentada; Fernando Henrique S. Barbosa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); e por Giuseppe Leonardi, do Instituto Cavanis (Veneza, Itália).
Fonte: Defato.com
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