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Esse é Wanderlei. Wanderlei Barbosa Rego. Um homem de 59
anos de idade. Nascido no Maranhão, morava com os pais e trabalhava
normalmente. Era encarregado, numa firma de lá. Em um momento da vida, achou um
amor e se casou. Foi morar com ela. Na casa dela. Wanderlei era um homem com
rotina, com história. Um dia, o casamento não deu mais certo. Resolveram separar.
Foi cada um para um lado.
- Saí da casa dela
sem nada. Era tudo dela mesmo. Voltei para casa dos meus pais, mas foi quando
uma firma me chamou para trabalhar numa fazendo no Tocantins. Eu fui.
Vanderlei trabalhou, além de Tocantins, em Brasília, em
Recife e agora está aqui em Assú, há aproximadamente um mês. Veio de carona em
carona. Nesse interim de novos endereços, foi quando perdeu todos os
documentos. Tinha o cadastro na firma, mas não tinha mais documentação alguma.
- Wanderlei, aí em Assú trabalha com o quê?
- Eu cato plástico.
Tem uma empresa aqui que compra quando a gente junta uma quantidade boa. Vou
separando as embalagens, os sacos.
- E o senhor mora aonde?
- Na rua. Minha
casa é a rua. Durmo ali na calçada perto da Caixa econômica do centro e passo o
dia andando, buscando plástico.
- Fez amigos aqui?
- Fiz alguns. Encontro
a noite, quando vou dormir.
Ele tem a voz baixa nas respostas, é calmo... na verdade,
triste. Wanderlei é um homem triste, a gente consegue ver nos seus olhos essa
tristeza pálida e sem vida. Solitário. Sem absolutamente nenhum documento,
Wanderlei não existe. Não é contabilizado por censos, não vota, não paga
contas. Não tem teto, nem família, nem redes sociais, nem futuro. Come o que
aparece e o que lhe dão, e vive da reciclagem do plástico. Ele é um ser que
cata lixo e que não tem nome. Dorme e acorda para não viver.
- Você tem um sonho, Wanderlei?
- Não. Não tenho
sonho nenhum.
- Ele não tem o ar de revolta, não. Ao contrário, é doce.
- Quero só meus
documentos novamente. Só isso.
Mataram os sonhos de Wanderlei. A esperança e o futuro
são utopias para os "vivos".
De todos os encontros que tive, de todas as histórias que
relatei em crônicas simples, Wanderlei foi, sem dúvida alguma, a tristeza que
mais me tocou e a desesperança mais rasgada que vi em olhos humanos.
Fonte: Katharina Gurgel / Mossoró Hoje
Tirar novos documentos é a coisa mais simples é só fazer um BO. Ou ele tem medo de ser reconhecido na DP.
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