Foto: Sargento Bianca Viol/CECOMSAER
Às vésperas do início da CRUZEX 2018, maior exercício
multinacional e conjunto realizado pela Força Aérea Brasileira, o Diretor da
manobra, Brigadeiro do Ar Luiz Guilherme Silveira de Medeiros, traz mais
detalhes.
. Qual etapa da CRUZEX está sendo executada neste
momento?
Na quinta-feira, dia 15, já chegou uma aeronave de carga
dos Estados Unidos, o C-17, mas que não participará do exercício. E as demais
comitivas estrangeiras estão na iminência de chegar. Tudo conforme o
planejamento. Os esquadrões brasileiros já estão pousando aqui na Ala 10. Sexta,
iniciaram os voos de familiarização neste aeródromo para os pilotos brasileiros
que não costumam voar aqui, conhecidos como FAM-FIT, sigla para Familiarization
and Integration Training.
. Por que a CRUZEX é tão importante? Que tipo de ganhos
operacionais a FAB espera desse treinamento?
O exercício é importante por três motivos. Primeiro, pelo
intercâmbio de experiências. Em 2002, na primeira edição da CRUZEX, recebemos
três países com meios aéreos e um país mandou observador militar. Hoje, temos
sete países que irão trazer aeronaves, fora os observadores. Ou seja, a
evolução é muito clara. Não é à toa que o número de interessados foi
aumentando. Essa troca de experiências é essencial para que a Força atinja um
nível de treinamento adequado. Em segundo lugar, a CRUZEX é importante pela
interoperabilidade que proporciona: nesta edição, Exército e Marinha também
estarão participando, inclusive nas ações de guerra não convencional, que é uma
das principais novidades da edição deste ano. Nesse tipo de cenário, o conflito
não acontece entre dois Estados constituídos, mas contra forças insurgentes. E,
finalmente, o exercício é importante pela possibilidade de treinar os nossos
meios logísticos-operacionais. Isso é essencial porque, na eventualidade de um
conflito ou na eventualidade de o país ser deslocado, por exemplo, para atender
a uma operação de paz, nós temos que ter essas expertises para executar.
. O Sr. falou sobre a evolução entre a primeira edição do
treinamento e a CRUZEX 2018. Poderia citar alguns exemplos de ganhos
operacionais trazidos por esse exercício na Força Aérea ao longo dos anos?
São dois os mais importantes. A parte de Comando e
Controle é um deles. Hoje, o Brasil já está muito desenvolvido e falando a
mesma língua dos países da OTAN. Podemos trabalhar de forma integrada com essas
nações. Outro aspecto é aquilo que chamamos de validação do tiro simulado, que
é o shot validation, atividade que ocorre em exercícios como o Red Flag, da
Força Aérea dos Estados Unidos. Não se trata apenas de atingir objetivos, mas
avaliar resultados e verificar como ele está sendo atingido. Quando nós realizamos
a simulação do emprego de armamento em um voo, somos capazes de avaliar o
índice de desempenho operacional que nós atingimos. Se o emprego é real, é
muito mais fácil de fazer essa verificação, de ver o armamento acertando o
alvo; mas, no caso da simulação, é preciso utilizar sistemas de forma
integrada.
. Durante os treinamentos, haverá atividades que coloquem
em uma mesma ação diferentes países?
Sim. Teremos reabastecimento em voo com aeronaves de
países distintos, lançamentos de paraquedistas realizado por aviões de outras
nações, entre outros exemplos. Esse é o cerne do intercâmbio de experiências,
pois muitos dos militares que estarão operando aqui já atuaram em situações de
conflito.
. Essa é a primeira vez que treinamos o cenário de guerra
não convencional na CRUZEX. Por que ele foi escolhido para esta edição?
As necessidades do Estado naturalmente evoluem com o
passar do tempo. Nas missões de paz, por exemplo, já treinamos nossos meios
terrestres, como ocorreu no Haiti. Nossos meios navais também foram treinados,
como na missão do Líbano, em que o comandante é da Marinha do Brasil. Meios
aéreos realizaram só missões de transporte. Agora, nós entramos em uma
auditoria da ONU para utilizar outras aeronaves em missões de paz - no caso, o
C-105 Amazonas, o H-6O Black Hawk e o A-29 Super Tucano. Essas aeronaves já
estão pré-aprovadas para serem empregadas. Em uma necessidade, estamos prontos
para operar. Então, o que nós vamos treinar na CRUZEX 2018 são ações ligadas a
esse tipo de conflito, a guerra não convencional, que são bastante específicas.
Nesses casos, o risco de dano colateral, ou seja, de atingir civis ou
instalações não diretamente relacionadas ao conflito, é muito alto.
. Por que investir em treinamento em um país pacífico,
como o Brasil?
As Forças Armadas são do povo brasileiro. E, pelas
características do nosso país, trata-se de muito mais de forças de defesa e não
forças de ataque, que servem para garantir a defesa da Pátria e dos seus
poderes constituídos. Essa é a nossa missão. E é pra isso que precisamos estar
prontos; é para isso que estamos treinando aqui.
. A FAB passou cinco anos sem realizar a CRUZEX. Por quê?
O que aconteceu entre a última edição, em 2013, e essa,
em 2018, é que o país foi sede de grandes eventos. Tivemos a Copa das
Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, em que houve um grande
envolvimento das três Forças. Nós não dispúnhamos de meios suficientes para
fazer um exercício das proporções de uma CRUZEX.
Fonte: Força Aérea Brasileira
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